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Neste ambiente escurecido, a umidade me faz arder de calor. As paredes constituem-se de um cheiro de mofo, são grossas e rígidas. Estou em uma prisão sob efeito do álcool. Não me julgo alcoólatra, apenas um apreciador de uma ardência que me leva a um pensamento orgástico.
Como cheguei até aqui? Estou vivendo a realidade ou são apenas alucinações? Estou deitado nos braços de Morfeu ou é apenas um reflexo do simpático na minha consciência?
O efeito do álcool passa linearmente, assim como minhas idéias fluem.
Apresento-me em um diálogo com meu subconsciente, numa dimensão onde não sei como que cheguei lá, numa dimensão onde matar é possível.
Todos me abandonaram. Minha prisão não converge para reflexos corretivos, minha prisão é apenas uma intolerância de uma autoridade qualquer.
Matei alguém. Como posso esquecer-me disso?
Estava privado de sentidos. O que se apoderou de mim?
Aquele desgraçado! Se eu não tivesse passado a faca na sua barriga, eu seria a vítima... o morto. Não valeu a pena. Sorte que o doutor delegado percebeu a minha embriaguês. Sorte ou azar? Não foi o suficiente. Sei que terei perdido a minha dignidade quando for libertado.
Minhas condições mentais consideradas como analíticas são, em si, pouco suscetíveis a análises. Tentei me descobrir a cada dose de cachaça, mas afundei-me em pensamentos distorcidos, surrealistas.
Onde está tua consciência, João Miguel? Responde, homem! Estou mesmo ficando louco... Acho que vou dormir e esperar por mais um dia nesse lugar fétido. Não esqueça, subconsciente, que estarei mais um dia em busca da minha liberdade.
Espero estar curado ao despertar.
Eduardo Mulato do Vale
31 de agosto de 2010 às 17:32
Bela interpretação psicologica do João Miguel.É impressionante a sua habilidade de envolver o leitor e imaginar e sentir a situação.
Parabéns pelo texto, continue assim!