Bato a vista no horizonte. Vejo a ida de Chico. Cara de derrota. Feição já cadavérica. O que será que acontecerá com ele? A seca poderá matá-lo. Que desgraçada. Estou perdendo os meus açudes e plantações, acho até difícil o juazeiro resistir.
Terra almadiçoada, esquecida por Deus. Entretanto, Ele existe para os ricos. Deve achar que somos animais.
Chico e sua família estão cada vez mais distantes, confundindo com miragens aguadas provocadas pelo forte calor na terra batida.
Sinto mais pena de Josias. Espero que o infeliz consiga se salvar, pois a fome e a sede serão constantes, perguntas se alojaram em sua mente e vermes em sua barriga.
Pergunto-me, às vezes, se era realmente necessário mandar Chico e família embora ao liberar o gado. Ele pelo menos recebeu a passagem de trem para ir aos campos de concentração, mas decidiu vendê-la e comprar um jumentinho com o dinheiro. Atitude que espero que não se arrependa.
Sumiu por completo, mas sinto o cheiro da sua esperança e da sua fé. Que Deus surja e ilumine a todos dessa família, pois irão precisar.
Eduardo Mulato do Vale



