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            Neste ambiente escurecido, a umidade me faz arder de calor. As paredes constituem-se de um cheiro de mofo, são grossas e rígidas. Estou em uma prisão sob efeito do álcool. Não me julgo alcoólatra, apenas um apreciador de uma ardência que me leva a um pensamento orgástico.
Como cheguei até aqui? Estou vivendo a realidade ou são apenas alucinações? Estou deitado nos braços de Morfeu ou é apenas um reflexo do simpático na minha consciência?
            O efeito do álcool passa linearmente, assim como minhas idéias fluem.
Apresento-me em um diálogo com meu subconsciente, numa dimensão onde não sei como que cheguei lá, numa dimensão onde matar é possível.
Todos me abandonaram. Minha prisão não converge para reflexos corretivos, minha prisão é apenas uma intolerância de uma autoridade qualquer.
Matei alguém. Como posso esquecer-me disso?
Estava privado de sentidos. O que se apoderou de mim?
Aquele desgraçado! Se eu não tivesse passado a faca na sua barriga, eu seria a vítima... o morto. Não valeu a pena. Sorte que o doutor delegado percebeu a minha embriaguês. Sorte ou azar? Não foi o suficiente. Sei que terei perdido a minha dignidade quando for libertado.
Minhas condições mentais consideradas como analíticas são, em si, pouco suscetíveis a análises. Tentei me descobrir a cada dose de cachaça, mas afundei-me em pensamentos distorcidos, surrealistas.
Onde está tua consciência, João Miguel? Responde, homem! Estou mesmo ficando louco... Acho que vou dormir e esperar por mais um dia nesse lugar fétido. Não esqueça, subconsciente, que estarei mais um dia em busca da minha liberdade.
Espero estar curado ao despertar.



                                                                                    Eduardo Mulato do Vale